Conceito Bobath Contemporâneo: Olhando de trás para frente

Claudia Alcântara de Torre

Em primeiro lugar, gostaria de recordar algumas declarações da Mrs. Bobath sobre abordagem ativa em que os terapeutas retiram a assistência à medida que a criança aprende a controlar seus movimentos [1]. Desde 1969, Bobath [2] concluiu ser desnecessário e indesejável o uso de posturas estáticas para inibição de reflexos, pois não permite o autocontrole, e o tratamento tornou-se mais ativo naquela época. Atividades diárias como preparar para andar, vestir, alimentar e outras atividades funcionais para a vida diária são utilizadas há décadas [1]. Uma das bases do Conceito Bobath é aprendizagem motora e para isso há necessidade de oportunidades para a prática [3]. É útil lembrar que tônus anormal não é considerado o impedimento neural principal como muitas vezes é ainda mal-entendido [4].

Pensando sobre evidências. Não ter evidências não significa que tal intervenção deva ser excluída, mas mais estudos são necessários. Nós devemos lembrar que não existem duas crianças iguais, principalmente aquelas com paralisia cerebral [5]. Desta forma, programas individualizados são necessários [6]. Estes pontos tornam mais difícil conseguir grupos homogêneos para alguns desenhos de estudos como os mais bem pontuados como os ensaios clínicos controlados randomizados. Para as evidências, estudos com crianças com distúrbios neuromotores como seu próprio controle, com linha de base múltipla, são uma boa opção para certificar que as mudanças sejam devido a intervenção e não pelo desenvolvimento natural [7]. A intervenção deveria ser moldada de acordo com as necessidades e habilidades individuais, incluindo aspectos psicossociais, para mostrar os efeitos da intervenção para melhorar a funcionalidade da criança [6].

A CIF (Classificação Internacional da Funcionalidade, Deficiência e Saúde) que é utilizada para orientar a avaliação, intervenção e pesquisa está incluída no Conceito Bobath Contemporâneo, mostrando a importância da atividade e participação como também a estrutura e função corporal. Assim, nós podemos concluir que atividades e participação são específicas para cada criança. Portanto, como poderíamos propor a mesma atividade e participação para todas as crianças de um grupo?

Uma revisão sistemática que incluiu o Conceito Bobath encontrou evidências de melhora na função motora grossa para o nível II do GMFCS (Sistema de Classificação da Função Motora Grossa), em todos os níveis da CIF para o nível IV e em participação e auto- cuidado para o nível III [8]. Arndt SW et al. [9] encontrou suporte para intervenção com o Conceito Bobath em crianças. Slusarki [10] mostrou eficiência para melhora da marcha e Bar-Haim S et al. [11] descreveram ganhos para subir escadas. Tsorlaks N et al. [12] verificaram efetividade do Conceito Bobath na função motora grossa. Tao W et al. [13] realizaram uma pesquisa interessante mostrando o aumento dos níveis de Fator de Crescimento e também os escores totais do GMFM para o grupo Bobath. Turker D et al. [14] mostraram resultados positivos para função motora grossa, auto-cuidado, transferências e locomoção para crianças com paralisia cerebral. Embora estas evidências, e a experiência prática de muitos terapeutas mostre a efetividade do Conceito Bobath, eu gostaria de encorajar os pesquisadores a estudar seus efeitos em diferentes populações de crianças com deficiências neurológicas. Independente disto, a necessidade de pesquisas publicadas para evidências, ideias de mensuração de resultados deveria entrar na maneira de trabalhar em cada abordagem, cada sessão de terapia com crianças com distúrbio neuromotor.

Conceito Bobath Contemporâneo tem a meta de aumentar o nível de atividade e participação com intervenção individualizada e a família como membro da equipe. Este Conceito é para as condições do neurodesenvolvimento ao longo da vida desde o nascimento. O manuseio é um instrumento essencial a ser usado durante a terapia quando necessário a fim de melhorar o nível de atividade e participação com melhor alinhamento e controle postural. A transição para a vida diária é importante para os melhores resultados e estes devem ser mensurados. O Conceito Bobath Contemporâneo está em consonância com a prática baseada em evidências, as bases teóricas da Neurociência e mensuração de resultados [15].

Eu espero que no futuro fisioterapeutas em todo o mundo produzam evidências com desenhos de estudos que verdadeiramente movam a pesquisa com crianças com distúrbio motor para frente [16].

Referências

1. Bobath B. Motor Development, its Effect on General Development, and Application to the Treatment of Cerebral Palsy. Physiotherapy November, 1971.
2. Bobath B. The Treatment of Neuromuscular Disorders by Improving Patterns of Co-ordination. Physiotherapy, January, 1969.
3. Mayston MJ., The Bobath Concept today. Synapse, Spring, 32-35. 2001.
4. Howle JM ,Tratamento Neuroevolutivo nos Estados Unidos-NDT nos EUA NDTA NETWORK March/April 2005.
5. Rosenbaum PR, Rosenbloom I. Understanding Cerebral Palsy. Essential Knowledge for Professionals and Parents. Pratical guide. London: Mac Keith Press 2012.
6. Mayston MJ From “one size fits all” to tailor made physical intervention for cerebral palsy. Dev Med Child Neurol 2011; 53:969-70.
7. Mayston M). Intervention Planning, Implementation, and Evaluation. In: Cerebral Palsy Science and Clinical Practice. Edited by Dan B, Mayston M, Paneth N and Rosenbloom L. Clinics in Developmental Medicine 2014; Mac Keith Press.
8. Inge Franki, Kaat Desloovere, et al. The evidence -base for conceptual approaches and additional therapies targeting lower limb function in children with cerebral palsy: a systematic review using the International Classification of Functioning, Disability and Health as a framework. Rehabil Med 2012; 44: 396–405.
9. Arndt SW, Chandler LS, Sweeney JK, Sharkey MA, McElroy JJ.Effects of a neuro-developmental treatment-based trunk protocol for infants with posture and movement dysfunction. Pediatr Phys Ther 2008;20(1): 11-22
10. Slusarski J. Gait changes in children with cerebral palsy following a neuro-developmental treatment course 2002; 14(1) 55-56
11. Bar-Haim S, Harries N, Belokopytov M, Frank A, Copeliovitch L, Kaplanski J e Lahat E. Comparison of efficacy of Adeli suit and neurodevelopmental treatments in children with cerebral palsy. Developmental Medicine & Child Neurology 2006, 48: 325–330 325
12. Tsorlakis N, Evaggelinou C, Grouios G, Tsorbatzoudis C, Effect of intensive neurodevelopmental treatment in gross motor function of children with cerebral palsy. Developmental Medicine & Child Neurology 2004, 46: 740–745.
13. Tao W, Lu Z, e Wen F. The Influence of Neurodevelopmental Treatment on Transforming Growth Factor-b1 Levels and Neurological Remodeling in Children with Cerebral Palsy. Journal of Child Neurology 1-4 ª The Author(s) 2016 Reprints and permission: sagepub.com/journalsPermissions.nav DOI: 10.1177/0883073816656402
14. Türker D, Korkem D, Özal C, Kerem Günel M, Karahan S. The effects of neurodevelopmental (Bobath) therapy based goal directed therapy on gross motor function and functional status of children with cerebral palsy. International Journal of Therapies and Rehabilitation Research [E-ISSN: 2278-0343] http://www.scopemed.org/?jid=12 IJTRR 2015, 4: 4 I doi: 10.5455/ijtrr.00000060
15. Alcântara de Torre, C e Golineleo, MTB. Conceito Bobath Contemporâneo. In: Fisioterapia Neuropediátrica – abordagem biopsicosocial. Organizadores Eloisa Tudela e Cibelle Formiga. Editora Manole 2021.
16. Alcantara de Torre CRM. Bobath in Brazil: what is the best study design for intervention for children with cerebral palsy? Centro de Apoio Terapeutico – Physiotherapy, Santos, Brazil. doi: 10.1111/dmcn.15147 This commentary is on the original article by Furtado et al. To view this paper visit https://doi.org/10.1111/dmcn.15067.

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