Perspectivas para fonoaudiologia em neuropediatria
Leila Hamra
Na minha jornada como fonoaudióloga, tenho enriquecido minha prática ao conhecer e trocar experiências com colegas na área de neuroreabilitação, inclusive durante algumas viagens ao exterior. Na minha rotina aqui no Brasil, é comum ouvir relatos de colegas de equipe que enfrentam dificuldades no acesso a profissionais especializados na área de reabilitação neurofuncional em fonoaudiologia. Na Alemanha, em recente visita, conheci uma colega fisioterapeuta que trabalha com o Conceito Neurovolutivo Bobath. Durante essa experiência enriquecedora, compartilhamos ideias e tive a oportunidade de acompanhar alguns atendimentos, incluindo o caso de uma criança com uma doença neurodegenerativa. Com um diagnóstico e prognóstico desafiadores, a criança realizava atendimento fisioterapêutico regularmente. Porém, não fazia acompanhamento fonoaudiológico por ausência de especialistas na cidade. Em decorrência disso, essa criança fazia uso de GTT (gastrostomia), mesmo tendo ainda a possibilidade de alimentar-se exclusivamente por via oral.
Certamente a equipe responsável teve a melhor conduta possível, porém tomo a liberdade de fazer este questionamento: Será que existe uma carência de fonoaudiólogos nesta especialidade?
Vale lembrar que a atuação fonoaudiológica nesse caso, beneficiaria a criança e a família em muitos aspectos, dentre eles a manutenção, acompanhamento e orientações aos familiares quanto aos aspectos envolvendo a alimentação, bem como a fala. Nos Estados Unidos, também percebi uma grande dificuldade em encontrar fonoaudiólogos atuando em neurolpediatria e disfagia.
Com este cenário, vejo uma enorme oportunidade para profissionais que querem se especializar nesse campo. O fonoaudiólogo que quer atuar em neuropediatra, deve ter uma formação específica para compreender o paciente em seus múltiplos sistemas. O conceito Neuroevolutivo Contemporâneo Bobath é um modelo de prática holística e interdisciplinar, baseado nas teorias de controle motor e da neuroplasticidade.
É uma abordagem multi sistêmica que capacita o fonoaudiólogo a intervir e atuar com crianças que apresentam desordens neuromotoras. O profissional terá a compreensão para planejar as tarefas entendendo quais são as capacidades funcionais que podem ser potencializadas, entendendo também quais são as limitações para aumentar o nível de participação, com objetivos alinhados ao desejo da família.
Valorizando a individualidade do tratamento fonoaudiológico, a intervenção precoce em bebês de risco evita comprometimentos nutricionais e respiratórios, garantindo assim a sobrevivência. Além disso, em crianças maiores, são trabalhados aspectos relacionados à alimentação, fala e comunicação. Há oportunidades de trabalho em centros de reabilitação, clínicas particulares, atendimento hospitalar e domiciliar.
Espero com esta Opinião inspirar os profissionais de fonoaudiologia e enfatizo que, apesar dos desafios, nosso compromisso e determinação podem trazer resultados transformadores e conquistas significativas na vida destas crianças e suas famílias.
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